Nesses dias, eu estava dentro de uma van indo trabalhar e, pra variar, mexia na minha bolsa procurando algo (já não me lembro mais o que era). Então, caiu uma pilha da minha bolsa, não uma qualquer, era recarregável - o que me motivou a sair do banco e a procurar, olhando debaixo da cadeira onde estava.
Vi, além do que eu procurava, uma moeda de um real ao lado da pilha, vinda gratuitamente pra mim. Um passageiro que estava atrás de onde estava sentada, pegou os dois objetos e me deu.
Fiquei a tarde toda analisando a situação com que aquela moeda chegou a mim gratuitamente, é estranho, pois fui tentando "trocá-la" mentalmente. Pensei cá com meus botões no passar do dia: "com esse R$ 1 real posso economizar na passagem", "comprar um cafézinho", "guardar como uma moedinha da sorte", entre outros pensamentos.
Vi, além do que eu procurava, uma moeda de um real ao lado da pilha, vinda gratuitamente pra mim. Um passageiro que estava atrás de onde estava sentada, pegou os dois objetos e me deu.
Fiquei a tarde toda analisando a situação com que aquela moeda chegou a mim gratuitamente, é estranho, pois fui tentando "trocá-la" mentalmente. Pensei cá com meus botões no passar do dia: "com esse R$ 1 real posso economizar na passagem", "comprar um cafézinho", "guardar como uma moedinha da sorte", entre outros pensamentos.
A noite, voltando do trabalho, entrou um rapaz no ônibus com um violão, começou a cantar músicas sertanejas, como "o menino da porteira" e solicitando qualquer trocado dos passageiros. Pensei no R$ 1. Me questionei: - será que o destino me deu essa moedinha pra que eu pudesse gratificar esse cantor nômade ?. Pensei, mas não fiz, guardei a moeda.
Esse R$ 1 também me lembrou bastante outra situação. A do menino Mateus, morto por uma bala perdida, com um realzinho na mãozinha agarrado, o qual seria utilizado na compra de pães para a família. Qual foi o valor do R$ 1 nessa hora????
Triste, mas infelizmente repetitivos, os momentos em que um inocente é morto por bala perdida dentro das favelas (veja fotos do favo no Viva Favela). Deley de Acari, Poeta e Animador Cultural, entristecido com tal situação de Mateus, fez um poema que nasceu da indignação. Como tive a oportunidade de conhecer Deley e de me emocionar com tal poema em uma aula, segue-o na íntegra (inclusive o comentário do grande poeta ):
UM REAL NA FAVELA VALE MUITO
UM REAL NA FAVELA VALE MUITO In memorian de Mateuzin da Baixa da Maré (estudo ainda inacabado de um poema inspirado numa foto em aparece a mão ensanguentada de mateuzin com um real )
Um real na favela vale muito,
Vale o pão do café das mães,
Vale meia dúzia de “ovo”
Pra misturar no miojo do almoço,
Vale uma viagem pelo mundo
Nos caminhos imensuráveis
Da web,Um real na favela vale muito,
Vale um guaravita e um traquina
Pra enganar a barriga, até chegar
Em casa quando falta merenda
Na escola,Um real na favela vale muito,
Um real, de prata e dourado,Reluzente o ao sol
Alumbrando a alma sublime
Na palma da mão de um
Menino morto por um estadoPolicial fascista cruel e desumano...
A prata de moeda denuncia
A espada da perversa guerra,
O ouro da moeda denuncia
A ganância da classe dominante
E sua sanha de poder,
A pequena mão espalmada
Mostrando a moeda é a própria
Mão do Tribunal PopularPermanente do Mundo sentenciando
Que a vida de uma criança
Não tem preço, não se mede por dinheiro,
Ela é imensurável, como seus sonhos,
Suas esperanças, seu futuro, sua vida,
Um real na favela vale muito,
Um real na mão de uma criança
Assassinada numa viela de favelaPela cruel e desumana mão armada Do estado policial é uma sentença muda:O Estado Policial Não presta, e antes Que reduza a vida no Campo, favela e na periferia
A uma prata de real,
É preciso, sentar no banco dos réus
Do Tribunal Popular dos Povos,
Ser julgado, condenado e sentenciado
A ser destruído e reduzido a nada.
Um real na favela vale muito,
Quando na mão espalmada
De uma criança morta pelo estado...
Porque mostra os governantes
Não prestam, não valem sequer
Um real de pinga aguada.
* * *
Você não está sozinho Deley, indignação com tanta repetição de violência dentro das comunidades também é um filha abraçada por muitos. E a moeda que achei e a que estava na mão de Mateus, com certeza foi gasta normalmente, sem ser lembrada como o amuleto do dia.