Ontem foi o Dia Internacional da Mulher, o que me motivou a voltar pra este humilde espaço de publicações pessoais. Não foi exatamente por causa da data, mas sim pelo fato de eu ter acompanhado um mega evento chamado "Corujão da meia-noite", com recitais de poemas, músicas ao violão e claro, pessoas especiais.
Aproveitando o evento e o gancho do dia comemorativo, meu grande amigo Severino Honorato (ou Don Severo) lançou o CD com declamações de poemas autorais. 18 faixas de puro humanismo. Enganjado socialmente, autor de livro infantil e como não podia deixar de ser, de poemas, ele foi uma das figuras raras que conheci no curso de produção cultural da UFF.
Lembrou-me também o grande prazer em escrever poemas. Há muito não faço meus rabiscos sentimentais. Senti saudades e quem sabe não volto à tona?
Bem...ele ficou de me mandar uma foto pra eu postar hoje e será o primeiro entrevistado do meu blog. Vamos que vamos. Pra não ficar o dito pelo não dito, vou recordar um poema maravilhoso que eu ouvi ontem da Elisa Lucinda. Cnfesso que nunca tinha acompanhado um poema dela (ignorância a minha).
Aviso da lua que menstrua
De: Elisa Lucinda
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!
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